top of page
Buscar
Foto do escritorPaula Passos

Mestrado e vida profissional: como conciliar

Atualizado: 3 de nov. de 2021

Não foi fácil, mas compartilho aqui um pouco do meu processo


mestrado-jornalismo-comunicacao
Pensei em jogar tudo pro alto algumas vezes, mas, no final, deu certo do jeito possível

Tentei mestrado algumas vezes na UFPE e na terceira tentativa passei. Acredito que foi o tempo para que eu amadurecesse um pouco melhor a ideia de estudar Telejornalismo e Cinema, através do programa Profissão Repórter, da TV Globo.


Quando tentei o mestrado em 2018, tinha pedido demissão há alguns meses e estava como freelancer: fazendo reportagens e com alguns clientes mais fixos para criação de conteúdo para as redes sociais. Estudei mais do que das outras vezes para a seleção e passei.


(Neste artigo, você vai ler bastante sobre momentos pessoais, porque acredito que nosso contexto influencia diretamente na qualidade do que produzimos e de como nos sentimos, enquanto produzimos.)


As aulas da pós-graduação começaram em março de 2019. No finalzinho de 2018, fui para São Paulo e passei lá o mês de janeiro fazendo um curso intensivo de Cinema, no Instituto de Cinema. As aulas eram praticamente o dia todo e, enquanto isso, fazia reportagens e continuava com meus clientes. Naquela época, eu morava com minha família e não precisava me preocupar com contas de valores altos, como aluguel, por exemplo.


Quando voltei de São Paulo, segui trabalhando e tentei a bolsa de estudos da Facepe, que é um órgão daqui de Pernambuco que fomenta pesquisa. Deu certo. Aquele dinheiro já me ajudava com transporte, livros, alimentação. Eu ia três vezes por semana para a Universidade. Toda semana havia bastante leitura e, consequentemente, trabalhos. Geralmente, seminários e/ou artigos no meio ou final das disciplinas.


No segundo semestre de 2019, cursei algumas disciplinas na USP. Ia duas vezes por semana e participava de eventos na PUC/SP. A rotina era basicamente a mesma: freelas e pesquisa. Contei com ajuda financeira da minha mãe e do meu pai para me manter em São Paulo.


É bem importante que, no segundo semestre, as definições sobre o que será escrito na dissertação já apareçam, mas só em novembro foi que minha orientadora, Yvana Fechine, e eu conseguimos chegar ao que minhas análises apontavam, que era um pouco diferente da ideia inicial.


(É impressionante como nosso objeto de pesquisa pode ser vivo. Outro dia falo mais sobre isso para vocês.)


A partir daquele novembro, resolvemos que traçaríamos um dispositivo de representação no Jornalismo a partir do Profissão Repórter, usando o conceito de filme-dispositivo. (Isso também merece outro artigo.)


Até então a rotina estava tranquila. Sempre tive facilidade em organizar meus horários, conseguia participar de muitos eventos, palestras em São Paulo, fazer reportagens e os trabalhos das disciplinas da USP, além de me divertir, claro.


Mas, em 2020, o caos se instaurou.


Voltei para o Recife, para cumprir meu estágio-docência. Voltei em fevereiro, nas prévias do carnaval, porque não sou besta. E, em seguida, veio a pandemia. Perdi todos os projetos que estavam programados para depois do carnaval e só tinha o valor da bolsa: R$ 1.600.


Quando retornei de São Paulo, também me organizei para dividir apartamento com duas pessoas. Após passar um mês em um espaço que se mostrou não tão adequado em estrutura física, fui para o interior de Sergipe, onde meu pai e minha mãe moram. Fiquei três meses. Com pouco tempo que estava lá, consegui um emprego de meio período, o que me fez abrir mão da bolsa de estudos. Depois desses meses em Itabaiana, voltei, dessa vez, para Olinda, para mobiliar o apartamento do meu pai, que estava sem uso. Um apartamento bem antigo, com problemas elétricos e hidráulicos.


Com esse retorno, comecei também a me preparar para dar aulas para a galera da UFPE, de modo remoto. Em resumo: trabalhava, lia muito, fazia fichamentos, preparava aula, dava aula, corrigia atividades e tentava organizar um apartamento para ficar minimamente com cara de lar. Isso depois de várias mudanças em poucos meses e, claro, essa maldita pandemia.


Durante a pesquisa, a estrada é solitária em muitos momentos. E eu só não estive mais sozinha, porque minha orientadora conduziu tudo com muita destreza e paciência.


E assim o tempo passou. Tive muita dificuldade para conseguir qualificar a dissertação (apresentar parte dela para uma banca) em novembro de 2020, mas deu funcionou.


Tive problemas de saúde (físicos e mentais) e a terapia me ajudou/a bastante a segurar as pontas. Perdi duas pessoas da família e tudo ficou mais difícil, além da distância dos amigos e amigas e da privação de liberdade.


Eu amava minha pesquisa, mas estava muito sobrecarregada por questões pessoais e profissionais. Era difícil encontrar momentos de prazer com ela e nisso o estágio-docência me ajudou bastante: é ótimo ser útil na formação de alguém.


Somava-se a esse cansaço, o fato de que faz anos que eu não tiro férias de verdade. Desde que comecei a faculdade, em 2012, sempre estagiei e estudei. Quando estava de férias do estágio, não estava da faculdade, porque estudei na UFPE e peguei uma greve, que prejudicou o calendário letivo. Depois, fiz um MBA, tentando amenizar as dificuldades de conseguir emprego que eu sabia que viriam, desde o finalzinho da faculdade.


Em 2021, perdi o emprego em março e logo emendei em um freela e em outro trabalho, onde estou agora. Do ponto de vista profissional, não posso reclamar de ter ficado parada na pandemia. E também não posso reclamar de estar muito exposta ao vírus, porque trabalho de casa.


Quanto à minha defesa da pesquisa: foi adiada algumas vezes e, finalmente, consegui fazê-la em julho de 2021. Foi um momento muito gratificante e de alívio. Agora, estou na fase dos últimos ajustes sugeridos pela banca, para realizar o depósito na biblioteca da Universidade.


Mas a grande questão é que quando se está numa pandemia, é natural que seu rendimento diminua muito e o que antes era feito em uma semana, agora, dure um mês, por exemplo.


Existe uma pressão interna muito grande. Sou uma pessoa organizada, que tenho facilidade em cumprir horários, mas quando você passa mais de um ano estudando de domingo a domingo, usando seu tempo extra para atividades domésticas e pesquisa, em uma pandemia, tudo se torna bem difícil de ser mantido. E olhe que não tenho filhos e, agora, moro sozinha, o que melhora e muito meu rendimento.


Pois bem. Não sei se há um segredo sobre como conciliar a vida profissional e acadêmica (e pessoal). O que me ajudou muito foram os fichamentos que eu fazia a cada leitura, que agilizavam o processo meses depois, quando eu precisava retomar um texto antigo; além, claro, de uma agenda, um planner de mesa e muitos post-its. Virginiana que chama, né?


Fora isso, foi muito importante estar perto (ainda que virtualmente) de amigos e amigas que me empurraram e me fizeram acreditar que o pior já tinha passado; manter o pilates, com todos os cuidados possíveis; e confiar que estava chegando ao fim.


Gostei do resultado da minha pesquisa e toda vez que sentia que estava difícil demais, lembrava que haveria um alívio muito grande após sua entrega. E houve.


De dica: se você não tiver muito a fim de pesquisar determinado tema e trabalha e/ou tem uma rotina muito corrida, sugiro repensar o mestrado.


Eu só consegui chegar até o fim, porque queria muito contribuir para pensarmos novas formas de Telejornalismo, a partir do Cinema. Essa pesquisa sempre teve um propósito muito claro. Se eu não tivesse essa vontade tão grande, teria desistido muito antes.


E você? O que pensa sobre o assunto?





48 visualizações1 comentário

1 Comment


Carlos Eduardo Amaral
Carlos Eduardo Amaral
Nov 04, 2021

Também quase despiroquei* no mestrado, e não passei metade disso que passaste, Paula. O lado bom foi ter ganhado um prêmio nacional pela dissertação e, inesperadamente, ter encontrado uma estrutura narrativa muito pessoal, que depois viria a aplicar em meus futuros livros (de ficção e não ficção).


* Perdão pela palavra, mas é a que melhor definia minhas inquietações e autopressões na época. Só de ler teu relato, veio-me ela à mente.

Like
bottom of page